O Pacote das Pipocas

É desta que não me calo!

quinta-feira, abril 14, 2005

A questão do aborto...

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Tenho perfeita noção que vou levantar polémica. Mas não consigo deixar de emitir a minha opinião. Quero que a entendam como tal. E quero que também que, quem manifestar a sua opinião o faça em plena consciência, sem tabus e com civismo. Mas que respeite também as opiniões dos outros.
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Mais uma vez estamos em vésperas de referendo sobre o aborto e o assunto continua a dividir as pessoas. Uns porque se incomodam já que seguem uma linha moral e de conduta mais rígida, outros porque lá-vêm-aqueles-falar-outra-vez-daquilo, outros que sim senhor faça-se, meia-bola e força.

Sucede que “aquilo” é um assunto que nos diz respeito a todos. Às mulheres porque são sempre as mais visadas na situação, e aos homens porque uma criança não se faz por obra e graça do Espírito Santo.

Esta, sendo um tema tão importante na nossa sociedade, não deveria ser tratada com tanta leviandade. Arrisco a afirmar que, apesar de ser uma questão física, é ainda mais um factor psicológico, económico e social que está a ser avaliado, ponderado ou criticado.

Quero antes de mais deixar bem claro que adoro crianças. Mas principalmente adoro que estas sejam muito mais felizes do que eu ou outra pessoa qualquer fomos, somos ou seremos.

Quero que não tenham que andar rotos ou semi-nús, ou que tenham que andar a esmolar pela vida para ter pão para comer. Não quero que trabalhem para dar de beber ao pai bêbado e de comer à mãe carregada de crianças de colo e já de barriga. Não quero que gravitem à volta da vida sem perspectivas de futuro, educação, condições mínimas de sobrevivência ou sem saberem o que é um carinho.

Quero que andem bem vestidas, alimentadas, amadas e mimadas, sem ter que aprender a sobreviver. Essencialmente quero que sejam felizes.

Estamos em pleno século XXI. Era altura de nos deixarmos de hipocrisias. Valorizo quem tem condições de ter e amar crianças, e teve acesso a uma educação responsável e cívica. Não posso valorizar uma lei que castiga a mulher, por ser mulher e ter abortado (com dinheiro que arranjou, que o parceiro deu ou a família... não interessa) e não castiga o homem que fez o filho, e que agora descarta-se da situação com um “o problema é teu” e “vai lá tratar disso”.

Quero lá saber se o aborto pode ser feito até às 10 ou às 16 semanas (discussão do dia). Quero, isso sim, que a nossa sociedade seja educada e perceba que a solução não é a pílula do dia seguinte (que a propósito, tem cada vez mais “adeptas” a consumir, mas de que ninguém fala) ... nem que o dever de usar preservativo é apenas quando se vai às putas (e nem sempre!). Quero que a igreja não apregoe que é crime de lesa pátria usar métodos anti-conceptivos.

Por isso:
Se tiver que fazer um aborto para evitar que mais um infeliz nasça, e ao qual tenho consciência não ter condições de criar, e se isso estiver ao meu alcance (não preciso ir a Espanha ou à parteira que conheço. Basta-me usar aqueles métodos mais negros e medievais que, infelizmente, ainda hoje se usam!)... faço um aborto sim senhor! E não tenho nem medo nem vergonha de o afirmar.

Prefiro é fazê-lo com todas as questões de segurança e higiene asseguradas, sem recriminações por parte de uma sociedade hipócrita, e sem ter que ir parar a um hospital por um desmancho doméstico mal feito. Ah... e ainda falta a parte do castigo e da exposição pública.

Eduque-se primeiro a sociedade e exija-se depois.

11 Comments:

Blogger paulo said...

polémica é um eufemismo.
a minha opinião acerca do aborto é um "poço de contradições". primeiro porque sou contra o aborto, segundo porque sou a favor da despenalização do mesmo.
não sendo mulher, nunca serei capaz de perceber totalmente as razões que levam alguém a abortar (salvo os casos previstos na lei, caso de violação ou risco de vida para a mulher que são facilmente compreensíveis embora haja muita gente que opta por não o fazer). entendo que será sempre (pelo menos para as pessoas minimamente sãs) um último recurso e não algo a que se recorre sistematicamente porque se tem dinheiro para isso como muito boa gente do chamado Jet7 (não sei porquê mas Jet7 lembra-me sempre os autoclismos Jet. talvez não ande muito longe da verdade).

partilho da opinião de que as crianças merecem nascer num ambiente que lhes dê condições de vida e não em condições de existência ou subsistência. para que isso não aconteça, é necessário que (tal como disseste) se eduquem as pessoas para que não cheguem ao ponto de recorrer ao aborto. se realmente se chegar a esse ponto, acho ridículo penalizar as mulheres. basta bem o sofrimento por que passaram até chegar a essa decisão. acho também uma suprema hipocrisia penalizar as mulheres e achar que a gravidez é como um vírus que se propaga pelo ar, sem qualquer intervenção de outra pessoa. acho uma hipocrisia dizer-se que o aborto é um problema das mulheres. é um problema da sociedade e, enquanto esta não lutar para resolver os problemas base que levam a que muita gente decida abortar, a hipocrisia será sempre o estado reinante.

11:50 da manhã, abril 14, 2005  
Blogger Zorze Zorzinelis said...

Não poderia deixar de mostrar a minha satisfação por encontrar pessoas esclarecidas quanto a esta matéria. Muito bem Pipocas e, já agora, uma especial atenção para o comentário do sempre pertinente Paulo.

Porque o senhor ministro que se empenha em salvar um feto até ao momento do seu nascimento, certamente não se preocupará com tudo aquilo que a pobre criança tem ainda para viver. Quando a puta da hipocrisia acabar, talvez possamos viver sem recalcamentos doentios...

12:27 da tarde, abril 14, 2005  
Blogger Pipocas said...

Acho que é crime matar. Mas o que será mais criminoso? Tomar uma atitude enquanto o feto está no ventre, ou homicídio qualificado em primeirissimo grau, com nove meses de premeditação? Não será crime esperar nove meses, pari-los e deixá-los ao abandono?!

Paulo... não posso deixar de me rir com a tua comparação aos autoclismos. Impagável!

1:07 da tarde, abril 14, 2005  
Blogger Viuva Negra said...

Grande testamento , ja sabes a minha opinião , educar sim , pois existe para muitos falta de informação , a a grosso modo , a mioria é por pura estupidez , só acontece aos outros , de forma generalizada , sou contra o aborto , acho é que o estado deve criar condiçoes para quem não as tenha de poder criar crianças e nao mata-las , mas isto dava pano para mangas ...

1:54 da tarde, abril 14, 2005  
Blogger Pipocas said...

Precisamente por ser assunto que dá pano para mangas é que as pessoas não deviam calar. O encolher de ombros e o virar a cabeça para o lado, não são a solução!

2:59 da tarde, abril 14, 2005  
Anonymous Anónimo said...

No início:
"E quero que também que, quem manifestar a sua opinião o faça em plena consciência, sem tabus e com civismo. Mas que respeite também as opiniões dos outros."

No fim:
"Prefiro é fazê-lo (...) sem recriminações por parte de uma sociedade hipócrita."

Pode-se respeitar a opinião dos outros chamando-lhes hipócritas?

7:47 da tarde, abril 14, 2005  
Blogger Pipocas said...

Não desrespeitei a opinião de ninguém que aqui deixou uma mensagem. Como felizmente, cada um tem direito à sua opinião e, até ver, a expressão da mesma é livre porque vivemos num país democrático, expressei a minha e convidei as outras pessoas a fazê-lo.

Se não o entendeste, lamento imenso. Mesmo assim, continuas a ser bem vindo e a expressar livremente as tuas opiniões.

11:49 da manhã, abril 15, 2005  
Blogger António said...

Não falta muito tempo para que os temas do aborto e da eutanásia sejam recorrentes.
A revolução moral (e não só)- que a engenharia genética, a clonagem e o mais que já há e o que virá provocarão - será tão feroz que irá deixar para trás esta discussão.
Já agora...eu voto Sim!
(pela 2ª vez...espero não ter de dizer: às três foi de vez!)

12:04 da manhã, abril 16, 2005  
Anonymous Anónimo said...

Eu já o disse noutros blogs, já discuti na blog esfera e muito mais fora dela, ... Sou a favor da despenalização. Não é por não se despenalizar que o aborto deixa de existir.
De resto, sou também a favor do aborto. Que sociedade é a nossa que proíbe a mãe de abortar o feto, mas depois lhe sugere que enfie o filho que não fala, não ouve e não vê, nem se tem ideia do que pensa ou sente toda a vida numa casa do Estado onde ela um dia o vê todo negro da tareia que levou duma auxiliar?
Poupem-me... :(

8:02 da tarde, abril 16, 2005  
Blogger Pipocas said...

Nem mais!!

10:17 da manhã, abril 18, 2005  
Anonymous Anónimo said...

dou-te um exemplo bem concreto. eu, se nestes últimos anos tivesse engravidado, garanto-te que abortava. a minha situação não correspondia a nenhum dos itens da lei. mas só eu ( e pelos vistos, mais uns milhares de artistas) , em consciência, sabia por que razão o tinha de fazer. e podes ter a certeza que ficaria com essa mágoa para o resto da minha vida.

8:03 da tarde, maio 11, 2005  

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